Spray Nasal De Ocitocina Promissor Com Crianças Autistas

Megan Brooks

04-11-2015

A inalação do hormônio sintético ocitocina (de diferentes marcas) levou a melhoras significativas na interação social de jovens crianças com transtornos do espectro autista (TEA) em um estudo aleatório, duplo cego cruzado conduzido na Austrália.

“Nós usamos alguns dos processos de avaliação de responsividade social mais utilizados”, Adam Guastella, PhD, da Clínica de Autismo para Pesquisa Translacional, Brains and Mind Centre (Centro Mente e Cérebro), da Universidade de Sydney, disse em uma declaração.

“Nós descobrimos que seguindo o tratamento com ocitocina, os pais relataram que seus filhos apresentaram mais responsividade social em casa, e as nossas próprias taxas clínicas independentes, cegas, também demonstraram responsividade social melhorada em salas de terapia no Brain and Mind Centre”, acrescentou o Dr. Guastella.

O estudo foi publicado online em 27 de Outubro em Molecular Psychiatry.

Efeitos Significativos

Os participantes incluíam 31 crianças (27 meninos) entre 3 e 8 anos de idade que enquadravam-se nos critérios para o transtorno autista, transtorno de Asperger, ou transtorno invasivo do desenvolvimento – não especificados de outra forma – como descritos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th Edition, Text Revision (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª Edição, Revisão Textual).

De maneira cruzada cega, eles receberam 12 Unidades Internacionais (IU) de ocitocina e spray nasal placebo de manhã e de noite (24 IU por dia) por 5 semanas, com um período de eliminação (washout) de 4 semanas entre cada tratamento.

Comparado com o placebo, a ocitocina levou a melhoras significativas no resultado primário principal das taxas de responsividade social dadas pelo cuidador (P<.01). Entretanto, a ocitocina não teve efeito principal significativo no segundo resultado primário em relatórios da severidade de comportamentos repetitivos preenchidos pelos cuidadores.

“Efeitos principais significativos” foram achados para as medições secundárias das taxas de dificuldades comportamentais e emocionais dadas pelos cuidadores (P<.001). As taxas de impressões clínicas de melhora global dadas pelo experimentador foram significaivamente maiores para a ocitocina comparada com o placebo (72% vs 41%, P<.05).

No geral, o spray nasal foi bem tolerado, segundo disseram os investigadores. Os eventos adversos mais comuns foram aumento da sede assim como da micção e da constipação diurna e noturna, que foram relatadas para dobro de crianças que receberam ocitocina (10 relatos) em relação às que receberam o placebo (cinco relatos).

“Esses achados requerem confirmação em estudos maiores”, apontaram os pesquisadores. Estudos também precisam determinar como a ocitocina pode ter melhorado o comportamento social e documentar como tratamentos relacionados podem ser usados para potencializar intervenções de aprendizagem sociais estabelecidas. Apontando que eles não podem descartar um efeito placebo, os pesquisadores acreditam que estudos futuros precisam considerar métodos de controle para efeitos placebo para melhorar a detecção de respostas terapêuticas.

Confirmação Promissora

Angela Sirigu, PhD, do Institudo de Ciência Cognitiva, Centre de Neuroscience Cognitive, Lyon, França, disse ao Medscape Medical News que esses resultados são “encorajadores e importantes por que o teste foi em crianças, e ele mostrou que a ocitocina tem um efeito cumulativo benéfico. Eles não são novidade já que nós já havíamos mostrado (em nosso estudo de 2010 no PNAS) que a ocitocina alivia as dificuldades sociais de pacientes autistas (adultos). Portanto, eu estou feliz de ver esses achados confirmando os nossos.

“A única crítica que eu tenho é que eles usaram apenas escalas subjetivas para documentar as melhorias. Eles não têm testes laboratoriais rigorosos, como tarefas conhecidas por serem sensitivas a efeitos da ocitocina. Por outro lado, eu acho que é uma adição importante para a literatura de ocitocina e autismo”, disse a Dr. Sirigu.

Evdokia Anagnostou, médico, cientista clínico, da Universidade de Toronto, Canadá, que não esteve envolvido no estudo, concorda.

“Este é um teste controlado aleatório muito promissor em crianças com TSA. Dada a escassez de qualquer medicação tratando os déficits sociais nucleares do TSA, esses dados são encorajadores, mas estudos maiores serão necessários”, Dr. Anagostou declarou ao Medscape Medical News.

O estudo não contou com financiamento comercial. Os autores não revelaram nenhum relacionamento financeiro relevante.

Mol Psychiatry. Publicado online em 27 de Outubro de 2015. Resumo


Traduzido por Mytchel Costa

Para ler o artigo original publicado pelo Medscape News, acesse: http://www.medscape.com/viewarticle/853885